Sala de leitura

Essa página está aberta para a divulgação de trabalhos acadêmicos e documentos históricos que abordem o Vale do Café em seus mais diferentes aspectos.

Na década de 1850, 75% do café consumido no mundo saía do Vale do Paraíba. O vale, no sul do Rio de Janeiro, quase São Paulo, é formado por cidades localizadas às margens do rio Paraíba do Sul: Vassouras, Valença, Barra do Piraí, Barra Mansa, Volta Redonda, Engenheiro Paulo de Frontin, Rio das Flores, Piraí, Pinheiral, Mendes, Miguel Pereira, Paty do Alferes, Paracambi . O principal produto de exportação do Brasil na época emprestou ao vale seu nome definitivo: Vale do Café. No centro disso tudo – dinheiro, poder, negócios, arte e cultura – estava a Vila de Vassouras. E ainda está.

Quem chegar a Vassouras, parar aos pés da Praça Barão do Campo Belo e olhar em direção à Matriz de Nossa Senhora da Conceição, no alto da praça, poderá, de certa forma, fazer uma viagem no tempo. O entorno da praça — com seus casarões, palacetes, as palmeiras imperiais, o casario sóbrio, o tempo que passa devagar — está mais ou menos do jeito que estava há cento e cinquenta anos. Outros sinais do passado, muito bem preservados, podem ser encontrados nas antigas fazendas de café da região, muitas abertas à visitação pública. O Festival do Vale do Café, realizado nos meses de julho, com eventos públicos e visitas guiadas, é uma ótima chance para conhecer um pouco mais sobre a cultura e a história do lugar.

É possível dizer que Vassouras — ou boa parte da Vassouras que até hoje encanta os visitantes — foi construída em 50 anos, entre 1830 e 1880. Os palacetes, a arquitetura suntuosa, as fazendas com interiores de inspiração francesa, a vida social intensa, a figura dos barões do café, as histórias de escravidão, as lutas dos escravizados, os hotéis de turismo e negócios, as igrejas e as festas — tudo em cinquenta anos. Em torno da matriz de Nossa Senhora da Conceição, erguida como uma simples capela em 1828 e ampliada em 1846, a cidade cresceu e, em muito pouco tempo, transformou-se no centro econômico do país. Em muito pouco tempo também, com o declínio da produção de café, quase desapareceu do mapa.

Vassouras vista de cima: praça, Matriz e museu

A utilização predatória do solo, o desmatamento como método, a recusa à modernização, a concorrência do cultivo do café em outras regiões do Brasil (onde imigrantes se ocupavam do plantio) e do mundo, o fim da escravidão, muitos são os motivos para a decadência da região, experimentada no fim do século XIX. Em 1880, a produção foi de 4 133 466 sacas e, ao final da década, em 1889, eram apenas 1 309 271 sacas. A produção prosseguiu em queda pelas décadas seguintes até que a crise mundial, em 1929, decretou o fim do ciclo.

Nas raízes de Vassouras — nome tirado de um arbusto abundante na região — e de todo o Vale do Café estão os índios coroados e puris, os escravizados vindos de Congo e Angola principalmente, os libertos e os quilombolas, os migrantes brasileiros (sobretudo os vindos do fim do ciclo do ouro em Minas Gerais), os cristãos novos, os judeus, os maçons, os nobres de pouca nobreza, os profissionais liberais de todos os tipos, os aventureiros em busca de riqueza. A história da região pode ser vista nas manifestações culturais (como o jongo, o caxambu e a folia de reis, por exemplo) até hoje muito presentes e que, de muitas formas, se espalharam, com a “diáspora do café”, pelas cidades vizinhas.

O auge do período do café, o conjunto paisagístico e urbanístico do Centro Histórico (tombados pelo IPHAN em 1958), as cicatrizes e as marcas de beleza deixadas pelas história, bem como as diversas causas da decadência da região foram — e continuam sendo — assunto de diversos estudos acadêmicos e artigos jornalísticos publicados em todo o país. Entender como se formou e se desmanchou o Vale do café — e as muitas possibilidades de retomada do protagonismo — é de fundamental importância para a compreensão do que é o brasileiro como povo. Esta será uma página dedicada a isso.

O Museu Vassouras funcionará no histórico casarão localizado no alto da Praça Barão do Campo Belo, ao lado da Igreja Matriz. O prédio foi construído para abrigar o Hospital da Santa Casa de Misericórdia, inaugurado em 1853. Conta a história oficial que, no projeto original, o subsolo, área menos nobre do casarão, era destinado ao atendimento dos “escravos, negros libertos e pobres”. Agora a história será outra.

Textos e trabalhos acadêmicos

O conjunto histórico, urbanístico e paisagístico da cidade de Vassouras foi tombado em 1958 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Neste arquivo, é possível acompanhar a documentação que permitiu a concessão do título à cidade, atestando que a cidade e suas construções preservam a memória do apogeu do ciclo do café. Baixe aqui.

Apresenta a Ilha Grande, distrito de Angra dos Reis, sua inserção na economia mercantil de subsistência e a memória da escravidão que se encontra no Registro Civil de Angra dos Reis. O Almanaque Laemmert informa que esse distrito possuiu o maior número de escravos do município, a partir da década de 1870. Seus proprietários, em sua maioria, eram senhores de poucos escravos, e as propriedades majoritariamente pequenas. O Registro Civil de Angra dos Reis não se esqueceu da escravidão depois de maio de 1888. Várias comunicações de nascimento e falecimento qualificaram as pessoas, informando sua condição anterior de escravo. Mesmo no século XX, os escrivães não deixaram de qualificar vários cidadãos republicanos como ex-escravos. Baixe aqui.

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