Especialista em fazer acompanhamento fotográfico em obras de restauração, Marcos Gusmão registra o dia a dia da construção do Museu Vila de Vassouras
Por Chico Gonzaga
Fotos de Marcos Gusmão
A fotografia foi o caminho encontrado por Marcos Gusmão para unir suas paixões. As fotos que em um primeiro momento eram apenas um hobby, se tornaram parte do seu trabalho como arquiteto nos anos 1980 e o acompanharam pelo resto da sua vida profissional. As fotografias técnicas que fazia para os relatórios de acompanhamento das obras foram ganhando um toque mais pessoal e atraindo outros públicos. Mesmo já aposentado da arquitetura, ele garante que nunca vai deixar de ser arquiteto e que este olhar que faz toda a diferença em suas fotos.
É essa sensibilidade do arquiteto por trás das lentes que Marcos usa para registrar a reforma do prédio do Museu Vila de Vassouras. Sombras, perspectivas, beleza, arte e gente — Gusmão sabe que, por trás de cada detalhe, de cada traço ou tijolo que se soma à obra do museu, estão as pessoas. Arquitetos, operários, engenheiros. Gente. Marcos gosta de dar especial atenção às mãos dos operários que trabalham nas obras. São eles — na ponta final da cadeia de construção — os grandes responsáveis pela transformação dos prédios.
— Eu foco muito na mão dos operários, no poder transformador que a mão deles tem. Aquela mão que faz toda a diferença, que faz tudo acontecer e isso é muito importante para mim. É engraçado que quando eu me aproximo com a câmera, eles já sabem que eu vou fotografar as mãos deles — explica Marcos, de 63 anos.
Foto aérea mostra telhado do museu e suas redondezas| Marcos Gusmão Janelas têm vista para a cidade de Vassouras | Marcos Gusmão O antigo casarão ganha novos significados | Marcos Gusmão Detalhe de uma das portas do casarão que abrigará o Museu Vila de Vassouras | Marcos Gusmão Operários em ação sob o olhar do arquiteto/fotógrafo | Marcos Gusmão
Ao longo de todo processo ele procura criar uma relação com os trabalhadores, brincar, jogar conversa fora, perguntar do futebol e, claro, mostrar as fotos que estão sendo tiradas. Os detalhes que vão sendo descobertos durante a restauração, como os tijolos feitos à mão, as paredes de taipa, as telhas antigas, também impressionam muito o fotógrafo.
— Esse registro de você poder ver como eram feitas as paredes, como as pedras eram assentadas para dar sustentação, isso tudo é muito lindo, muito fascinante. Os detalhes de marcenaria da porta que dá acesso ao largo da igreja são a coisa mais linda, se me deixarem eu passo o dia inteiro só fotografando essa porta. Os detalhes, os adornos têm uma relação de poder com os senhores que mandaram fazer essas portas.
Essa não é a primeira vez que o fotógrafo acompanha a restauração de um prédio histórico. As obras realizadas na fachada da Biblioteca Nacional — finalizadas em 2018 — foram registradas por Marcos em mais de dez mil fotos, resultando na exposição “As mãos que restauram o tempo”.
Marcos não esconde de ninguém que é um apaixonado por museus e prédios históricos. Outro museu pelo qual tem carinho especial é o Museu Nacional, onde trabalhou como arquiteto antes e depois do incêndio que ocorreu no local, em 2018, e danificou parte considerável do acervo. Ele conta que ficou muito abalado quando viu pela televisão as imagens do fogo tomando o prédio. Essa relação é tão profunda que ele traz marcada em sua própria pele, onde tem tatuado no antebraço um desenho da fachada do Museu Nacional.
Detalhes do telhado do Museu Vila de Vassouras | Marcos Gusmão Memorial judaico, com jardim projetado por Burle Marx | Marcos Gusmão Novos espaços à espera de exposições Marcos Gusmão Piso do Museu Vila de Vassouras é preparado para receber concreto | Marcos Gusmão O passo a passo da obra documentado pelo fotógrafo | Marcos Gusmão
As fotografias feitas dos acervos e das reformas dos museus muitas vezes ganham destaque e vão parar no próprio acervo das instituições, dividindo espaço com outras obras de arte em exposições. O arquiteto conta que as fotos que fez do Meteorito de Bendegó após o incêndio do Museu Nacional, foram parar em exposição no Museu do Louvre, em Paris.
— Eu gosto demais do meu trabalho e quando as pessoas falam “isso é arte”, eu acho que eu consegui alcançar o meu objetivo.
A chegada ao Vale do Café é o desfecho de um flerte que vem desde a época de estudante de arquitetura, quando se apaixonou pela paisagem e pelo casario da região. Ele acompanha a construção do museu há pouco mais de um ano e, a cada dia que passa, a cada registro que faz, antevê um futuro de brilho para Vassouras e as cidades vizinhas:
— O projeto está perfeitamente integrado ao conteúdo a que se propõe, com grandes espaços e um ambiente de desenvolvimento da arte, cultura e valorização da produção regional. Isso, em pouco tempo, estará refletido na economia e no turismo do Vale do Café. É uma grande obra, em vários aspectos.
Belíssimo e importante trabalho. Parabéns
As belas das fotos do Artista Marcos Gusmão , retratam sua competência como arquiteto e sensibilidade artística do seu olhar humanizado, agregado ao seu talento fotográfico. Uma capacidade de olhar como poucos. Trabalho comovente??????