História contada em plantas

Patys que resistem na subida da Serra de Miguel Pereira
Patys que resistem na subida da Serra de Miguel Pereira

Jardins do Museu terão espécies que contam a trajetória da região, como a vassoura, o Paty, o café e o Pau-Ferro

Vassoura é mato. Um arbusto, para ser mais exato. Para ser mais preciso ainda, uma planta infestante de pastagens que pode invadir áreas de lavouras anuais. É amplamente distribuída pelas diversas regiões do país. As roçadas são ineficientes para controle, já que o corte leva a intenso rebrote.

Dito assim, parece que vassoura é algo sem valor — mas o tempo, a pertinência e, principalmente, a resistência, transformaram a planta em símbolo local, uma marca. Seu nome científico é Sida Carpinifolia. Seu nome popular, no plural, dá identidade ao município que abriga nosso Museu: Vassouras.

A cidade ganhou esse nome devido à grande incidência da planta na região. Curiosamente, Vassouras inicialmente era parte de outro município vizinho que também roubou o nome de uma planta: Paty do Alferes. Paty (ou Pati) é uma espécie de palmeira. Vassouras e Paty, as plantas, estarão representadas nos jardins do Museu, planejados pelo arquiteto e paisagista Marcos Moraes de Sá.

— O projeto de paisagismo do Museu desde o início propôs uma espécie se storyteller que recuperasse a questão da paisagem local e a toponímia (ciência que estuda os nomes dos lugares). Vassouras era uma vila que foi desmembrada de Paty do Alferes. Paty é palmeiras em tupi, conhecida cientificamente como Syagrus pseudococos — diz Moraes de Sá.

Ambas plantas tinham tanta presença na região que acabaram nomeando municípios. No caso específico da vassoura, considerada uma erva daninha, ela tem grande capacidade de resistência e de se reproduzir e ganhou esse nome popular porque era realmente usada para a confecção de vassouras de roça. Seus galhos secos amarrados a cabos de madeira, viraram utensílios domésticos muito populares no século XIX. Moraes de Sá, que busca emprestar à paisagem do museu um pouco da história e do meio ambiente da região, explica melhor:

— Nada mais lógico, portanto, que a vassoura, o Paty e o próprio café estejam presentes nos jardins do museu. Ou seja, a história de Vassouras é a história da paisagem também e das espécies vegetais que caracterizavam essa paisagem. Além disso, nosso bosque lá será com árvore icônica da Mata Atlântica, que é o Pau-Ferro, representando a floresta original que foi derrubada. Então quem visitar os jardins do museu vai ser recebida com a história da região sendo contada por meio da vegetação e poder ver o que é uma vassoura, o Paty, o café, que criança hoje nem relaciona com planta, acha que é algo que vem da indústria, e o Pau-Ferro. Contar essa trajetória sempre foi uma premissa do projeto de paisagismo.

Se a vassoura e o paty deram nome a municípios, o café acabou batizando toda a região, conhecida como Vale do Café. Isso mostra a intensa relação da população local com a paisagem e a vegetação que a compunha.

A única coisa que não estava prevista no projeto inicial era o bosque com Pau-Ferro, que surgiu naturalmente no decurso de uma obra que mexe com elementos vivos e, portanto, exige constantes adaptações e eventuais correções de rumo. Mas ele veio acrescentar uma importante referência à história da região e sua aparência original.

Já da vassoura, que nos emprestou o nome, o município herdou também a capacidade de resistência, de constante renascimento e de deixar sua marca numa região tão importante do nosso Estado. E que terá sua história contada diariamente no Museu. Dentro de suas paredes com as janelas abertas ao mundo. E nos jardins que abraçam amorosamente nosso espaço.

*Abaixo, publicamos o estudo de ocupação de espaços abertos, jardins e paisagismo do Museu Vassouras. Uma espécie de planta para as plantas. Trata-se de um estudo preliminar e que com o tempo sofreu e sofrerá alterações, sobretudo na distribuição dos espaços — mas mantendo as prioridades na flora local, no diálogo com a Mata Atlântica e na preservação das espécies que dão identidade à região.

Baixe aqui o estudo.