Jardins do Museu terão espécies que contam a trajetória da região, como a vassoura, o Paty, o café e o Pau-Ferro
Vassoura é mato. Um arbusto, para ser mais exato. Para ser mais preciso ainda, uma planta infestante de pastagens que pode invadir áreas de lavouras anuais. É amplamente distribuída pelas diversas regiões do país. As roçadas são ineficientes para controle, já que o corte leva a intenso rebrote.
Dito assim, parece que vassoura é algo sem valor — mas o tempo, a pertinência e, principalmente, a resistência, transformaram a planta em símbolo local, uma marca. Seu nome científico é Sida Carpinifolia. Seu nome popular, no plural, dá identidade ao município que abriga nosso Museu: Vassouras.
A cidade ganhou esse nome devido à grande incidência da planta na região. Curiosamente, Vassouras inicialmente era parte de outro município vizinho que também roubou o nome de uma planta: Paty do Alferes. Paty (ou Pati) é uma espécie de palmeira. Vassouras e Paty, as plantas, estarão representadas nos jardins do Museu, planejados pelo arquiteto e paisagista Marcos Moraes de Sá.
— O projeto de paisagismo do Museu desde o início propôs uma espécie se storyteller que recuperasse a questão da paisagem local e a toponímia (ciência que estuda os nomes dos lugares). Vassouras era uma vila que foi desmembrada de Paty do Alferes. Paty é palmeiras em tupi, conhecida cientificamente como Syagrus pseudococos — diz Moraes de Sá.
Ambas plantas tinham tanta presença na região que acabaram nomeando municípios. No caso específico da vassoura, considerada uma erva daninha, ela tem grande capacidade de resistência e de se reproduzir e ganhou esse nome popular porque era realmente usada para a confecção de vassouras de roça. Seus galhos secos amarrados a cabos de madeira, viraram utensílios domésticos muito populares no século XIX. Moraes de Sá, que busca emprestar à paisagem do museu um pouco da história e do meio ambiente da região, explica melhor:
— Nada mais lógico, portanto, que a vassoura, o Paty e o próprio café estejam presentes nos jardins do museu. Ou seja, a história de Vassouras é a história da paisagem também e das espécies vegetais que caracterizavam essa paisagem. Além disso, nosso bosque lá será com árvore icônica da Mata Atlântica, que é o Pau-Ferro, representando a floresta original que foi derrubada. Então quem visitar os jardins do museu vai ser recebida com a história da região sendo contada por meio da vegetação e poder ver o que é uma vassoura, o Paty, o café, que criança hoje nem relaciona com planta, acha que é algo que vem da indústria, e o Pau-Ferro. Contar essa trajetória sempre foi uma premissa do projeto de paisagismo.
Se a vassoura e o paty deram nome a municípios, o café acabou batizando toda a região, conhecida como Vale do Café. Isso mostra a intensa relação da população local com a paisagem e a vegetação que a compunha.
A única coisa que não estava prevista no projeto inicial era o bosque com Pau-Ferro, que surgiu naturalmente no decurso de uma obra que mexe com elementos vivos e, portanto, exige constantes adaptações e eventuais correções de rumo. Mas ele veio acrescentar uma importante referência à história da região e sua aparência original.
Já da vassoura, que nos emprestou o nome, o município herdou também a capacidade de resistência, de constante renascimento e de deixar sua marca numa região tão importante do nosso Estado. E que terá sua história contada diariamente no Museu. Dentro de suas paredes com as janelas abertas ao mundo. E nos jardins que abraçam amorosamente nosso espaço.
*Abaixo, publicamos o estudo de ocupação de espaços abertos, jardins e paisagismo do Museu Vassouras. Uma espécie de planta para as plantas. Trata-se de um estudo preliminar e que com o tempo sofreu e sofrerá alterações, sobretudo na distribuição dos espaços — mas mantendo as prioridades na flora local, no diálogo com a Mata Atlântica e na preservação das espécies que dão identidade à região.
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