Vassouras recebe projeto que irá extinguir fiação aérea, aumentar capacidade energética e renovar o cenário do centro histórico.
Por Luísa Avelino
Uma das praças mais famosas do estado do Rio de Janeiro terá novo visual após uma transformação muito aguardada pelos moradores da cidade. A Praça Barão de Campo Belo, que desde a década de 1960 faz parte do conjunto paisagístico tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) finalmente se verá livre dos fios e rolos pendentes nos postes de luz, até então atrapalhando as fotos e contemplação dos prédios pelos visitantes.
O projeto Vale do Café, Conexões e Desenvolvimento, de realização do Instituto Cultural Cidade Viva (ICCV), marca a renovação do cenário da cidade, com substituição da fiação aérea no perímetro histórico pela subterrânea. Outro objetivo da nova instalação é o aumento da carga energética do entorno, facilitando a abertura de novos equipamentos turísticos, o que já está previsto para ocorrer a partir do fim de 2022.
Quem esteve em Vassouras há mais cinco anos irá se surpreender com a paisagem urbana central. O perímetro histórico, que pode gabar-se por ser o único representante da arquitetura neoclássica urbana do período cafeeiro no Brasil, recebe iniciativas de revitalização que estão a todo vapor.
Em 2018 o antigo Centro Cultural Presidente Tancredo Neves recebeu investimentos e transformou-se no Centro Cultural Cazuza, com espaços para eventos e exposição permanente sobre a vida do artista, que passou boa parte de sua adolescência em Vassouras, e dá nome ao local. No mesmo ano, através do PAC Cidades Históricas — o Programa de Aceleração do Crescimento do governo federal — foram iniciadas as obras nos prédios Barão do Ribeirão e Barão de Vassouras, dois ícones locais, ambos com intenção de entrega em 2023.
Ao lado da igreja, os casarões que abrigavam o Asilo Barão do Amparo e a Casa das Irmãs, estão se transformando no nosso Museu Vila de Vassouras, que será um polo de preservação da história, cultura e identidade da gente do Vale do Café.
— Com tantas construções e iniciativas pela restauração, é natural que as vias recebessem esse cuidado da retirada dos fios — disse Natale Onofre, diretora de projetos do Instituto Cultural Cidade Viva, e produtora executiva do projeto Vale do Café, Conexões e Desenvolvimento. — A região está passando por uma grande transformação com novos equipamentos turísticos que serão lançados nos próximos meses e anos. Essa novidade implica em uma mudança de carga, que hoje não conseguiria sustentar a demanda que está por vir. Então, essa intervenção estrutural é fundamental para que essa mudança venha a ocorrer.
Três etapas
O projeto que irá mudar o visual e estrutura energética do centro de Vassouras terá três etapas. Ele conta com o patrocínio da Light, do governo do Estado do Rio de Janeiro e da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, além da parceria com a prefeitura de Vassouras.
A primeira fase, já em andamento, tem previsão de duração de oito meses, incluindo execução de obras civis e recuperação de infraestrutura. A área do centro que terá a fiação aterrada foi divida em três menores áreas, como se fosse um triângulo. O início se dará pelo braço direito, ao lado da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, com previsão de quatro meses.
As obras de infraestrutura acontecem enquanto é feita a elaboração de um projeto executivo, que irá estudar com mais detalhes as necessidades gerais daquela área. Por ser um ambiente tombado, as intervenções são cuidadosas, contando com projeto de arqueologia para acompanhar as escavações, projeto de obras civis e elétrico.
Enquanto a primeira etapa acontece, outras ações caminham em paralelo, entre elas uma pesquisa sobre o Vale do Café e os principais atores ligados ao patrimônio e turismo cultural. A pesquisa será usada na elaboração do Estudo de Sustentabilidade e Estratégias de Impacto para a região, mais um material que ficará disponível em pdf às entidades e público de interesse.
Outra ação desta primeira etapa será a realização de três seminários — que também constarão no Estudo de Sustentabilidade — um deles em Vassouras e os outros dois em municípios da região. Os seminários ocorrem no formato híbrido e promoverão debates, reflexões e proposições sobre patrimônio, memória, cultura e turismo cultural. A intenção é que os eventos reúnam indivíduos atuantes na comunidade, que tem relação com turismo e cultura do Vale do Café.
O objetivo, segundo Onofre, é promover conexões entre equipamentos que já existem e que estão chegando:
— Será uma oportunidade de pensar coletivamente como os novos se incorporam a um processo de turismo cultural que já existe, fomentando a criação e potencialização de parcerias.
A 2ª etapa, que poderá ser orçada, elaborada e iniciada a partir do 4º mês de andamento do projeto, irá atuar no trecho mais baixo da rua, que passa em frente ao Casarão do Barão do Ribeirão. Já a 3ª etapa será na rua perpendicular, que desce pelo lado esquerdo da igreja.
Como toda obra, por melhor que seja, envolve alterações no trânsito e no dia a dia da cidade. Assim, uma parte importante do projeto é a comunicação, que permanece ao longo de toda a 1ª etapa.
—A obra irá, de alguma forma, afetar a vida das pessoas. Será necessário falar diretamente com os moradores, os comerciantes, os professores nas escolas. Queremos conquistar a população para embarcar no projeto, entendendo que será um transtorno temporário, mas que trará benefícios duradouros — comentou Christina Lima, Assessora de Comunicação do ICCV.
Na conclusão deste projeto, Vassouras será pioneira na região Vale do Café e estará ao lado de cidades turísticas como Paraty e Tiradentes, que também retiraram parte da fiação em áreas históricas preservadas.
— O maior impacto deste projeto será o de permitir que o processo de crescimento ocorra, já que é nítido o potencial para eventos culturais na cidade e região. Esse projeto demonstra que a cidade está se preparando para o futuro, para usufruir com plenitude da sua vocação e mais próxima de se tornar referência no estado do Rio de Janeiro — disse Onofre. — Além de ser um projeto que impactará positivamente toda a região: seja como exemplo do que deu certo, seja como local para receber produções regionais e realizar intercâmbio de trabalhos com os municípios próximos.
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