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Vale do Café, mostra sua cara

Arte

Museu de Vassouras faz primeira exposição antes mesmo de concluir suas obras, com retratos e depoimentos de figuras representativas da região

Projeto Vozes do Vale aplica fotos dos moradores de Vassouras nos tapumes do museu; leia mais no blog

Museu faz primeira exposição antes mesmo de concluir suas obras, com retratos e depoimentos de figuras representativas da região

Por João Carlos Pedroso

“Vozes do Vale” é um projeto artístico realizado por encomenda do futuro Museu Vassouras. Contempla o registro da memória e das expectativas das pessoas do Vale do Paraíba através de suas relações com o território onde vivem e produzem, seus afetos e crenças, suas ideias de futuro. Os encontros resultaram em conversas — captadas em fotografias e registros orais – sobre o que um museu pode fazer por uma comunidade e de que forma ele pode ser construído a partir dela. Uma parte desse projeto está aqui diante do público, na ocupação dos tapumes da obra do Museu, com as fotografias e trechos dos pensamentos de personagens que nos aproximam daquilo de que é feito o Vale do Café: memória, história, cultura, terra, encanto, raiz, gente. Vem aí o museu da gente.

Um espaço cultural que mostra sua vitalidade e carta de intenções antes mesmo de abrir as portas. É o que faz desde a última sexta-feira, 20 de janeiro, o Museu Vassouras, com a abertura de sua primeira exposição, Vozes do Vale. A mostra, gratuita e em espaço aberto (os tapumes que protegem as obras do Museu) dá voz aos moradores da região e mostra suas caras em um trabalho realizado com delicadeza, harmonia e sensibilidade pela produtora cultural e artista plástica Catarina Duncan, curadora do projeto, e o fotógrafo e cineasta Lourenço Parente.

São fotografias e trechos de depoimentos de mais de 40 personalidades do Vale do Café que, exibidos ao longo da fachada da obra do Museu, antecipam sua identificação com a comunidade e a maior vocação do espaço: mostrar a importância cultural e histórica da região e que será um local feito para exibir Vassouras e adjacências de forma cosmopolita, mas com o sotaque e a cara de seus moradores.

— Essa pesquisa se iniciou em 2020, a partir do processo de desenvolvimento do conteúdo do Museu Vassouras. Foi solicitado que se construísse relações com redes e a comunidade do Vale do Paraíba hoje, tanto oriundos do Vale quanto pessoas que têm uma participação ativa e uma rede comunitária na região — diz Catarina Duncan. — A gente convidou algumas pessoas-chave que nos apresentaram a outras pessoas, formando assim essa rede, que hoje já tem mais de 40 pessoas.

Com as entrevistas, sempre registradas também em fotos e gravações, foi possível conhecer diferentes perspectivas da cultura do Vale atualmente.

— A intenção desse projeto é entender que cada pessoa é uma fonte inesgotável de conhecimento, que cada uma dessas pessoas tem sabedoria, saberes, e essas pessoas são essa região, retratam esse território. Às vezes, mais do que uma história do passado, você olhar para o presente pode ser o melhor caminho para encaminhar o futuro — aponta Catarina.

Foram ouvidos e registrados palhaços de Folia de Reis, lideranças do jongo, da capoeira, figuras religiosas, médicos, rezadeiras, benzedeiras, pessoas vinculadas ao reflorestamento, gente de todos os tipos. Gente, sempre gente.

— Tudo isso foi se desenhando numa rede bem bonita, que agora está nos tapumes do museu. Foi uma honra participar desse processo — ressalta Catarina.

Lourenço Parente também fala com muito entusiasmo da empreitada:

— É um mergulho no Sul Fluminense, nas narrativas que moldam esse território, acreditando que a cultura, os costumes, os saberes estão em cada pessoa dessa região, tão significativa para entender o Brasil do passado, do presente e do futuro — disse ele. — Pessoalmente, é a realização de um sonho, uma pesquisa que há muito tempo sonhava em fazer. Tenho uma relação muito íntima com Vassouras e cidades vizinhas. Sempre fui fascinado pela Folia de Reis, o jongo, os contadores de histórias em geral.

O fotógrafo lembra que com cada pessoas que participou do projeto foram feitos retratos e uma entrevista em áudio. Para os retratos, buscando evitar uma abordagem que eventualmente fosse redutora, foi feita uma opção por uma espécie de coautoria com os entrevistados.

— Colocava-me como como um fotógrafo pronto a realizar os desejos do entrevistado. Dessa troca surgiram imagens muitas vezes mais significativas do que eu poderia imaginar sozinho. Foi o caso, por exemplo, do Seu Paulo, que escolheu ser fotografado segurando uma espiga de milho crioulo herdada sua bisavó, indígena — avalia Lourenço. — Acho que isso mostra a vocação do projeto. O desejo de mostrar que as pessoas que habitam aqui se sintam parte indispensável da cultura da região. O que fica é um sentimento de muita gratidão pelas pessoas que abriram suas casas, seus sentimentos e memórias íntimas.

Paulo de Souza Costa, fotografado para o projeto Vozes do Vale

Catarina Duncan lembra que vem muito mais por aí:

— Essa é uma exposição temporária, que só mostra partes do nosso projeto. A outra parte são os áudios, entrevista de cerca de quinze minutos com cada um dos participantes relatando suas histórias. Quando o museu abrir, essas narrativas estarão disponíveis. Essa exposição funciona como uma introdução e também para falar desse desejo do Museu de trazer as pessoas para dentro.

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